Hoje decidi partilhar convosco a pior fase da minha vida…
Em alguns posts atrás, eu falo de problema de saúde que me apareceu este ano mas nunca disse qual é realmente esse problema.. CANCRO DA MAMA
Começando do inicio…
No final do ano 2008 já sentia qualquer coisa no peito, nada de grave (achava eu) e nunca dei importância. Como só sentia um papinho quando estava deitada, na minha ideia não era nada. Até que o meu namorado começou a insistir para eu ir ao médico mas eu sempre adiei… agora acho que foi medo e na minha ideia “só acontecia aos outros”… até que tinha aqui por casa um panfleto com o nome de uma clínica e a incentivar as mulheres a fazerem o auto-exame e essas coisas… em Fevereiro lá me decidi e marquei consulta naquele sitio… mas nunca pensei que tivesse alguma coisa.
Nos anteriores à consulta já andava nervosa mas nunca partilhei nada disto com as minhas amigas, guardei sempre para mim… é o meu defeito, guardo tudo cá dentro.
No dia da consulta a minha mãe foi comigo, também nunca pensando no pior. O hospital onde fui era excelente e felizmente calhou-me um médico fantástico que fez tudo para me ajudar. Lá me fez um exame básico, disse-me logo que tinha qualquer coisa, que já devia ter ido à mais tempo mas que nada estava perdido.
No mesmo dia, mandou-me fazer uma eco mamária e mamografia. confirmou-se que tinha mesmo alguma coisa no peito e faltava saber se era benigno ou maligno. Deu-me a escolher se queria fazer a biopsia naquele momento ou ia lá depois. Claro que fiz logo na altura, adiar para quê?
Não consigo descrever o que senti. Sabem quando parece que estão no meio de um filme? Só conseguia chorar.
O resultado chegou poucos dias depois. Ele ligou-me e pediu para ir lá. Era maligno. Caiu-me tudo, o chão à minha volta desmoronou.
O médico disse que tínhamos de marcar a operação. Era urgente. Felizmente, eu tenho seguro de saúde da empresa. Essa clínica era privada e por isso foi tudo tão rápido. A operação foi igualmente rápida, uma semana depois já estava no hospital, se fosse no público demorava muito mais tempo.
Fiquei 3 dias internada. Correu tudo muito bem. Não precisei tirar o peito, tirei apenas o tumor e uns gânglios na axila. Até aqui tudo bem… nunca me passou pela cabeça que ainda não tivesse tudo “resolvido”.
Na altura de tirar os pontos e ver como tudo ficou, o médico despediu-se de mim, dizendo que a partir daí o ideal era ser transferida para o IPO por causa dos tratamentos.
Tratamentos? Mais uma vez, caiu-me tudo, fiquei sem chão. Falou-me então na quimioterapia e na radioterapia. Tinha mesmo de ser, neste casos não se podia facilitar.
Lá fui encaminhada para o IPO para começar os tratamentos. Também não tenho razão de queixa de lá, são todos muito bons.
Comecei pela quimioterapia, um dos piores tratamentos que podemos fazer. Não posso dizer que me correu mal, não. Encarei tudo muito bem e mesmo por isso nunca passei mal nem nunca fiquei de cama. Ao contrário do que a médica me tinha dito, eu tinha imenso apetite e comia muito. Além da cortisona, o comer muito também me ajudou a engordar…
Passado uns meses, depois de acabar a quimio, comecei a radioterapia. Não custa tanto, é o só o trabalho de ter de ir lá todos os dias e estar à espera. Fiquei com a pele queimada mas também já está normal.
Por último, fiz um tratamento que tive de ficar 2 dias internada, ou seja, a braquiterapia, é um tipo de radioterapia.
O último tratamento dura 5 anos, isto, é tenho de tomar uma medicação durante esse tempo e só depois me dizem que estou 100 % livre a aí sim, já posso pensar em engravidar, para já não.
Mas correu tudo bem. Já acabaram os tratamentos. Posso dizer que neste momento já não tenho nada. Agora só tenho consultas de rotina a partir de 2010.
Estou de baixa desde o fim de Fevereiro e em Janeiro de 2010 regresso ao trabalho.
Foi a pior fase da minha vida. Sofri muito. Valeu-me o apoio incondicional dos meus pais, sempre estiveram aqui, sempre me acompanharam em tudo, nunca mostraram sofrimento à minha frente e sempre me deram força.
O meu namorado nunca me deixou, nunca me abandonou, nunca me deixou ir abaixo, esteve sempre comigo, ajudou-me em tudo, chorou comigo, sorriu comigo, deu-me uma força e apoio incalculável.
Os amigos… alguns desapareceram, apareceram outros, e os verdadeiros estiveram sempre comigo.
O resto da minha família também esteve sempre presente, nunca faltaram.
Posso dizer que nunca deixei de fazer nada. Todos dizem que me portei muito bem. Levei esta doença da melhor maneira. Claro que houve e há dias em que acordo e passo o dia a chorar.Sofri muito. Sofro muito ainda. Mas fui e continuo a ser forte. Nunca pensei que conseguisse ser tão forte.
Aos poucos recupero o meu aspecto físico. Já desinchei e emagreci. O meu cabelinho está a crescer. Já não estou pálida. Sinto que estou a voltar ao normal.
E devido a esta doença não posso exagerar nas dietas. Tenho essencialmente de fazer uma boa alimentação e moderar. Já emagrecei 9 kgs por isso consigo emagrecer mais 9.
Já à algum tempo que queria contar-vos a minha história mas nunca tive coragem… Hoje ao ler o blog da Cris, vi o sofrimento dela. Vi que não tenho que ter vergonha de mim nem do que me aconteceu.
Tenho 26 anos. Percebi que isto não acontece só aos outros. Aconteceu-me a mim. Lutei e sobrevivi.
Desculpem o testamento e o desabafo…
Se leram até aqui… OBRIGADA
BEIJINHOS
quarta-feira, 16 dezembro, 2009
De facto foi um susto e tanto. Sabes, às vezes queixo-me de coisas que não são nada em comparação com estas partidas que a vida nos prega. Eu nunca passei por nada do género, fiz uma operação ao peito mas foi estética (reduzi) e por isso nunca temi pela minha vida. Mas imagino que seja um confronto e tanto. Já apanhei uns sustos com os meus pais e foi precisamente nesses momentos que descobri a força que tinha. Mesmo as pessoas à nossa volta às vezes não esperam que a nossa reacção seja tão forte, é verdade.
Ainda bem que saiste dessa sem problemas. Tenho a certeza que agora encaras a vida e os problemas de outra forma.
Quanto ao teu post anterior, pelo que descreves não me parece que tenhas compulsão. Um bocadinho de gula, talvez, mas até me parece que te controlas muito bem. A compulsão é um cenário bem mais feio e envolve pormenores que não sei se serei capaz de contar um dia a alguém e que só os meus pais sabem porque tiveram que lidar com eles. Não é apenas gula, é bem mais difícil de controlar e mais feio que isso. E humilhante...mesmo. Há momentos em que perdemos a dignidade toda...
Enfim...
Minha querida, ainda bem que o teu problema teve um final feliz, ainda bem que não tens compulsão alimentar, ainda bem que vem aí um novo ano e vais recomeçar a trabalhar e vai tudo voltar aos eixos.
Beijo grande